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Este microbook é uma resenha crítica da obra: The undoing project: a friendship that changed our minds
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-5100-189-9
Editora: Intrínseca
Começamos falando de Danny Kahneman. Era um homem de muitas dúvidas, inclusive sobre a própria memória. Apesar disso, ministrava aulas sem utilizar anotações.
Seus alunos chegavam a pensar em uma possível capacidade de memorizar livros inteiros. Talvez por isso, o professor exigisse deles o mesmo, sendo conhecido por seu rigor acima da média. Mas quando era perguntado sobre fatos de seu passado, a resposta era a mesma: “não confio em minha memória e você deve fazer o mesmo”.
Sua estratégia de vida sempre foi a de não confiar em si mesmo, dizendo que a emoção que definia o próprio comportamento era a dúvida permanente, útil para que mergulhasse cada vez mais fundo nas descobertas feitas no futuro. Por outro lado, houve quem enxergasse nisso um mecanismo de defesa contra quem quisesse decifrá-lo por completo.
Mas em suas lembranças, estava bem nítido o período entre o fim de 1941 e o começo de 1942, pouco depois da ocupação alemã em Paris. A surpresa pelo toque de recolher e a determinação de usar a Estrela de Davi no suéter marcavam a memória do israelense.
Naquele tempo, ele chegou a ir à escola mais cedo que o habitual, tamanha vergonha que sentia da humilhação causada aos que tinham suas origens. Por mais que tentasse esconder, esse período marcaria sua personalidade para sempre.
Quando tinha apenas 18 anos, Amos Rapoport foi identificado como apto para liderar um novo sistema de seleção do exército israelense, transformando-se em um comandante de tanque. Foi em 1956 que ele entrou na Jordânia para vingar a morte de civis conterrâneos, atirando contra judeus tão jovens quanto ele na guerra sem fim daquele pedaço de território.
Dentro do tanque, ele seguia ordens de maneira irracional, sem refletir sobre cada uma delas. Nunca sabia quais decisões eram as melhores para tomar. Atirar ou esperar, matar ou deixar com vida, viver ou morrer. Apenas ouvia o que a chefia mandava, como um bom militar faz, nunca questionando as ordens vindas de cima.
Quando se deu conta de que a guerra não é mera brincadeira — um joguinho em que as pessoas apertam botões, explodem bombas e voltam para casa —, mas realmente são responsáveis por mortes de outras pessoas jovens como ele era na época, percebeu que estava no lugar errado.
Sem pânico ou medo de morrer, matava sem expressar emoções. A dúvida sobre o que fazia no meio de uma guerra vinha de questionamentos sobre como se comportaria no caso de um combate corpo a corpo. Ao abandonar esse mundo e voltando a vida aos estudos, mal sabia que sua vida seria transformada e ele mesmo modificaria os caminhos da ciência.
Mesmo durante os tempos de trabalho intelectual nos Estados Unidos, houve períodos em que precisou voltar a seu país de origem para tarefas com o exército local. Mas sua vocação era outra: transformar o mundo por meio de artigos científicos e teses contestadoras. Tudo isso, claro, depois de cruzar com um grande amigo.
Durante seis meses, Danny e Amos frequentaram a Universidade de Michigan, se cruzando eventualmente, mas sem parar para papos mais aprofundados sobre temas como psicologia e o comportamento humano. Os dois atuavam em prédios relativamente distantes.
Seu primeiro contato mais produtivo foi durante um seminário, em que ambos tiveram espaço para falar o tempo que quisessem. Para os alunos, havia certa rivalidade na forma de pensar dos dois. Mal sabiam que daquele evento universitário surgiria uma parceria que faria uma verdadeira revolução no pensamento científico mundial.
Mas até aquele momento, os dois não haviam entrado em sincronia quando tratavam dos problemas reais sobre aplicações da psicologia na vida cotidiana. Ali, o passo inicial foi dado para a amizade crucial, que revelaria anos depois o quanto nossas decisões não são tomadas.
Já passamos da metade deste microbook. Aqui, é bom lembrar o quanto a maioria das áreas de atuação gostava de proferir julgamentos pobres de dados, como era o caso da psicologia até antes da influência da amizade dos protagonistas deste livro.
Antes deles, a maioria das esferas da atividade humana carecia de números concretos para construir algoritmos capazes de substituir o julgamento humano. Em casos de problemas difíceis de serem resolvidos, bastava se basear em opiniões de médicos, juízes, consultores de investimento, olheiros de beisebol, gerentes e todo mundo mais que decidia coisas.
Quando Amos e Danny começaram a trabalhar juntos, a sensação inicial era de que começavam a atuar com pedaços de informação até a chegada de um julgamento final. Havia muitos desentendimentos entre eles. De ideias, algo normal para o pensamento científico. Foi um longo caminho até chegar à razão na análise de cenários.
Mas então, eles se dispuseram a criar modelos matemáticos capazes de provar que os julgamentos e decisões precisam ser embasados em dados, sendo capazes de apontar quando há maior probabilidade de opiniões ou lugares-comuns darem errado. Com isso, seria possível desenvolver maior precisão em prognósticos de diversos campos de atuação, embasando todas as atitudes tomadas não em meros achismos, mas em fatos concretos.
Em muitos casos, as pessoas fazem previsões inventando narrativas, projetando muito pouco e explicando tudo, vivendo sem ter certezas embasadas em dados, acreditando que podem adivinhar o futuro sem trabalhar com afinco nas probabilidades e aceitando qualquer explicação, desde que elas se ajustem aos fatos conforme suas crenças.
Os artigos publicados pela dupla começaram a provar o quanto o homem se comporta como um dispositivo determinista no meio de um universo probabilístico. Assim, surpresas acabam sendo esperadas e tudo que já aconteceu deve ter sido inevitável.
Em sua tese, eles mostraram como fazer previsões e julgamentos sob incerteza faz com que as pessoas não pareçam seguir o cálculo da possibilidade ou a teoria estatística da previsão, apoiando-se em um número limitado de fatos que às vezes produzem julgamentos razoáveis e às vezes levam ao erro grave e sistemático.
Até mesmo a experiência no Exército de Israel foi usada para mostrar como as pessoas encarregadas de examinar os jovens israelenses não haviam sido capazes de prever quais seriam bons oficiais e quais se dariam bem em combate. Tudo porque o julgamento em palpites rasos se sobrepunha à análise de dados.
Se ainda hoje, em todo o mundo, ainda ficamos surpresos com o crescimento de discursos sem o menor sentido, mas que agradam multidões, é porque a dupla realmente tinha razão: fatos e dados são menos valorizados que o devido e decisões que deveriam ser racionais são muito mais baseadas na emoção e no viés que confirma crenças preestabelecidas.
A conclusão dos trabalhos de Amos Tversky e Danny Kahneman chega a ser bem simples, mas até então não era levada em consideração. Nós não agimos racionalmente. Até seus estudos, as teorias econômicas indicavam justamente o contrário. Foram feitos dezenas de experimentos, demonstrando o quanto julgamentos e decisões funcionam como a visão.
Ou seja, em alguns momentos são claros, em outros turvos, mas sempre sujeitos a miragens, ilusões de ótica e cegueira. E não importa se a pessoa é bem instruída ou analfabeta, tampouco se é jovem ou mais velha. Das crianças de 10 anos aos idosos, as armadilhas dos vieses cognitivos foram comprovadas como fator determinante para a tomada de decisões.
Era muito raro que cientistas e estatísticos considerassem esse fator ao desenvolver teorias e projetar caminhos em seus setores de atuação. O trabalho da dupla rendeu a Daniel Kahneman o Nobel de Ciências Econômicas em 2002, seis anos depois da morte de Amós por um câncer, aos 59 anos.
Os dois provaram ao mundo que podemos, sim, agir com a razão. Mas nem sempre, ou quase nunca isso acontece.
Você acredita que toma as melhores decisões sempre, baseadas na pura racionalidade e sem deixar suas paixões tomarem conta da sua conduta? Bem, os estudos elaborados por Amos Tversky e Danny Kahneman podem até lhe deixar contrariado, mas indicam que raramente isso acontece.
Toda vez que nos deparamos com alguém optando pelos piores caminhos, pode ter certeza: há uma explicação científica para isso. O viés cognitivo turva nossa visão e nos leva a equívocos. Ignorar esse aspecto é deixar de lado a ciência, sendo tão irracional quanto as escolhas equivocadas.
Em Justiça: o que é fazer a coisa certa, você aprende um pouco mais sobre um curso que fez a cabeça de muita gente sobre a forma como a sociedade se organiza e as decisões são tomadas.
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Michael Monroe Lewis (Nova Orleans, 15 de outubro de 1960) é um jornalista e escritor de vários livros de não ficção. É redator da revista Vanity Fair e escreve artigos para o The New York Times. Seus livros incluem The New New Thing: A Silicon Valley Story (br: A Nova Novidade), Liar's Poker: Rising Through the Wreckage on Wall Street (br: O Jogo da Mentira), The Blind Side: Evolution of a Game (adaptado para o cinema... (Leia mais)
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